O TERRORISTA CHINÊS
Tudo aconteceu em 22 de abril de 1964, há apenas 22 dias da eclosão da Revolução de 31 de março de 1964, que alguns preferem denominá-la de 1o de abril. No antigo Palácio dos Campos ElÃseos, o governador Adhemar de Barros, em solenidade pública, realizada no Salão Amarelo, recebia do Conde Matarazzo, a escritura pública do imponente edifÃcio que atualmente abriga a sede do governo do Estado de São Paulo – o Palácio dos Bandeirantes. Naquele evento estavam presentes Secretários de Estado, senadores, deputados federais e estaduais, prefeitos, vereadores, polÃticos, enfim, uma multidão de autoridades que superlotavam o Palácio dos Campos ElÃseos. O momento polÃtico era preocupante, delicado e explosivo e a daà a grande quantidade de policiais e seguranças por todos os cantos e lados. Presente também a delegação ademarista de Campos do Jordão, constituÃda pelo vice-prefeito Arakaki Masakazu e pelos vereadores Fausto Bueno de Arruda Camargo, Major Ferreira Neves e Pedro Paulo Filho. O grande Salão Amarelo ficou pequeno para acolher aquela multidão de autoridades e polÃticos, era um empurra-empurra insuportável e um calor sufocante. A delegação jordanense acabou se dispersando, espalhando-se em meio à quele povão engravatado. Arakaki acabou se fixando na cabeceira da mesa principal, logo atrás da poltrona do governador do Estado. De repente, Arakaki percebeu que um dos inúmeros seguranças passou a olhá-lo insistentemente, e quando começaram os discursos, o segurança fez sinais com a mão para que Arakaki o acompanhasse para fora do Salão Amarelo do Palácio. Não havia possibilidade de conversar naquele local. Arakaki o seguiu pacientemente, embora contrariado. Diabo! O que estava acontecendo? – perguntou-se. De repente, o segurança e o suspeito defrontaram-se com os vereadores jordanenses. “Vai sair?†– perguntou o Major Neves. O segurança parou, olhou para a delegação de Campos do Jordão e perguntou: “Os senhores o conhecem?†Todos responderam: “É o vice-prefeito de Campos do Jordão!†O segurança ficou encabulado e desmanchou-se em mil desculpas, mas retirou-se imediatamente. Os vereadores jordanenses, não entendendo o que estava acontecendo, procuraram se informar: o segurança tinha a certeza de ter apanhado um terrorista chinês. E onde? Em pleno Palácio do Governo, durante importante solenidade publica e bem atrás da poltrona do governador do Estado! Era só o que faltava, um absurdo! Passados alguns meses em 21 de julho de 1964 o governador Adhemar de Barros desembarca em Campos do Jordão para inaugurar o Palácio Boa Vista e recepcionar o Presidente da República Castelo Branco. No dia seguinte, inauguraria a Estação de Tratamento de Ãgua (SABESP). Chegou ovacionado pelos presentes e recepcionado pelas autoridades locais. Ao passar pelo nosso saudoso vice-prefeito, tocou de leve em seu ombro, dizendo: “Como vai Arakaki?â€. O segurança do governador que vinha logo atrás de Adhemar, olhou, constrangido, para Arakaki Masakazu. Deve ter pensado consigo mesmo:†Que besteira ia fazendo, não era um terrorista chinês!†Moral da história: as aparências enganam na vida e na polÃtica.
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