MORTE NA ESTAÇÃO DE CURA
A BÃblia Sagrada revela Judas Iscariotes como o sÃmbolo da traição. Não se trata de indignidade exclusivamente masculina, porque aqui, agora e sempre haverá Judas usando saias neste mundo de Nosso Senhor Jesus Cristo. Durante o Ciclo da Cura na história jordanense, houve casos dramáticos, paixões arrebatadas, romances trágicos, em que o fio condutor foi a traição feminina. Bem por isso, os médicos da época recomendavam pensões exclusivamente masculinas ou femininas e jamais pensões mistas com doentes de ambos os sexos, porque dali nasciam paixões vulcânicas que retardavam o tratamento e a cura da tuberculose. As paixões de homens e mulheres apresentavam outra complicação: a medicação, a boa alimentação, o repouso contÃnuo no leito e a proximidade fÃsica estimulavam o apetite sexual, desencadeando paixões incendiárias e retardando o processo de cura. Já relatei há tempos uma história dramática ocorrida na antiga Pensão Primavera. Mas, há vários e muitÃssimos casos semelhantes no passado e no presente. Um deles ocorreu com Joaquim e Roberta em Vila Capivari, onde as pensões eram de pessoas de melhor nÃvel financeiro e social. Foi a história de Joaquim, residente no Vale do ParaÃba, um homem bem posto e muito respeitado em sua cidade pela sua seriedade e honestidade, possuindo algum recurso financeiro. Embora já com idade, apaixonou-se por Roberta à primeira vista, uma provocante morena, de belos olhos, que envolveu Joaquim, nascendo daà um breve romance. Era uma moça que gostava de bens materiais e de aventuras, e tinha uma vida complicada, cheia de romances com outros homens. Achava-se uma espécie de Marylin Monroe ou Ivete Sangalo, era muito requisitada pelos homens e adorava a paquera, o galanteio e a sedução dos olhares. Achava-se rainha da cidade. Na realidade, era uma mulher disponÃvel, mas trabalhadora, o que impressionava Joaquim pela sua garra. Embora de pouca cultura, Roberta era inteligente e sagaz. Com toda essa experiência vivida e praticada, soube como ninguém envolver Joaquim, prometendo-lhe honestidade, sinceridade e fidelidade. E também a alcova de amor. Joaquim, homem de boa-fé e apaixonado, acreditou piamente na lábia de Roberta. Dada a sua vida extravagante, Roberta contraiu tuberculose. Joaquim deu-lhe todo apoio financeiro, hospedou-a numa pensão mista, localizada em Vila Capivari, onde atualmente funciona o restaurante "Panela de Ferro", de José Salvador Donizeti. Era uma pensão assobradada com pessoas de bom nÃvel social e financeiro. Desnecessário dizer que Roberta, com sua vocação aventureira e um passado complicado com outros homens, logo se apaixonou por um rapaz, que mais parecia um menino, mas de corpo atlético e bonitão, do tipo que as mulheres adoram, sobretudo, as levianas e vulgares. Nem sempre o tuberculoso tem aparência raquÃtica, pálida e doentia. Roberta começou a paquerá-lo com a sedução dos seus olhos, nascendo daà um romance com abraços e beijos que acabou terminando na cama dela. O pobre Joaquim, cego de paixão, vinha visitá-la no último sábado de cada mês, sempre a tratando com carinho e trazendo-lhe presentes e mais presentes, alguns muito caros. Ignorava que estava sendo traÃdo à distância (hoje se diz "on line'). Estava tão apaixonado o coitado que, certa feita presenteou-a com uma aliança de ouro de 18 quilates, colocou-a em sua mão esquerda, para que ela se sentisse sua esposa. E ainda pediu que ela jurasse como se estivesse no altar o texto tradicional: juro fidelidade, sinceridade e honestidade na vida, na doença e na morte. Muito esperta e escolada, Roberta jurou ante os olhos emocionados de Joaquim, que considerou aquele dia o mais feliz de sua vida. Entretanto, como a mentira tem perna curta e vida breve, um belo dia Joaquim chegou a Campos do Jordão na sexta-feira e não no último sábado do mês, dirigindo-se logo à pensão para visitar a sua amada. Ingressou na casa, subiu as escadas, porque Roberta tinha o quarto no andar superior do sobrado. Não costumava bater à porta e foi entrando no quarto. A cena que ele viu deixou-o completamente desnorteado, foi uma facada no seu coração, pois, surpreendeu Roberta deitada em sua cama com aquele menino alto e forte, ambos nus. Desnorteado Joaquim sacou do revólver que trazia e começou a disparar cegamente sobre o casal, matando a ambos. Ainda chegou ouvir Roberta gritar: "Deixe eu explicar! Deixe eu explicar!" A cama virou uma poça de sangue. Joaquim desceu as escadas, guardou o revólver, pegou o telefone a magneto e calmamente pediu a presença do delegado de polÃcia, explicando que acabara de cometer duplo homicÃdio. Quando a autoridade policial chegou e perguntou-lhe por que provocara aquela tragédia, ele respondeu: "Por nojo e por ódio, doutor. Prefiro ser assassino do que ser chamado de corno!" Trata-se de um dos muitÃssimos casos de Judas com saias que sempre aconteceram no passado, ocorrem no presente e se repetirão no futuro, Mas, com eles ou sem eles, a vida continua com suas grandezas e suas misérias. |