DESCULPEM O DESABAFO
No inÃcio da década de 60, iniciamos uma longa pesquisa para escrever um livro sobre a história da nossa cidade. Surpreendeu-nos a pouca literatura então existente: o “Ãlbum Histórico de Campos do Jordãoâ€, de Condelac Chaves de Andrade, de 1946, e “Campos do Jordãoâ€, de Mário Sampaio Ferraz, de 1940, que são trabalhos admiráveis. Aà começou o nosso calvário, com pesquisas nos arquivos das Prefeituras de Campos do Jordão, Pindamonhangaba, São Bento do SapucaÃ, Santo Antonio do Pinhal e Itajubá. Começamos a gravar depoimentos de dezenas de pessoas mais idosas, recolhendo a memória dos fatos vividos e convividos por eles. Foram mais de 40 gravações, cujos depoentes, em sua maioria, são falecidos.
Vasculhamos jornais antigos, desde os mais remotamente publicados. Solicitávamos fotografias antigas da cidade, que muitos se recusavam a ceder, acumulando enfim um grande acervo delas, cujas cópias cedemos a Edmundo Ferreira da Rocha e a Ricardo Castelfranchi.
Perturbamos as pessoas com pedidos de dados, fotos, jornais, depoimentos, a tal ponto que alguns diziam quando me viam aproximar: “Já vem aquele chato de galocha me aborrecer com essa mania de história de Campos do Jordão!â€. Coitados, eles tinham razão, pois estávamos obcecados na missão de reconstituir e periodizar a história da nossa cidade. Entretanto, engolfados em imenso acervo, conseguimos alcançar o nosso intento. Reconhecemos que em nosso estafante e solitário trabalho, cometemos injustiças, citando fatos e pessoas que não tinham significação histórica e deixando de fazê-lo para com os que deveriam ser registrados. Contratamos e financiamos uma edição de 2.500 exemplares com a Editora Santuário, que muitos acharam uma loucura e desperdÃcio. Não tivemos qualquer auxÃlio da iniciativa privada ou do poder público, à exceção da ajuda prestada pelo prefeito João Paulo Ismael que adquiriu 500 exemplares para distribuição em escolas e bibliotecas. A edição esgotou-se rapidamente e, atualmente, a procura da “História de Campos do Jordão†é contÃnua e incessante, embora a obra tenha quase 800 páginas, um verdadeiro cartapácio como escreveu a Revista “Épocaâ€. Contudo, tem sido baldados todos os nossos esforços para reeditá-la, com mais 100 páginas de atualizações, dado o seu custo que não podemos suportar financeiramente, frustrando leitores, alunos, autoridades, universitários, historiadores e professores, que procuram incessantemente o livro nas livrarias jordanenses. Confessamos a nossa revolta com as grandes empresas nacionais e multinacionais que se exibem em Campos do Jordão, procurando extrair proveito da fama da Estância jordanense. Preferem investir fortunas na montagem de “stands†em maio e junho de cada ano para em agosto desmontarem suas vitrines sem qualquer retorno do investimento aplicado. Não se interessam pela reedição da “História de Campos do Jordãoâ€, embora esse investimento publicitário perduraria por dezenas de anos. Pergunto ao leitor: quanto tempo dura um livro? Vinte, trinta, quarenta anos? Com certeza, seria esse o tempo de duração do patrocÃnio publicitário das empresas nacionais e multinacionais que investissem na reedição da obra histórica. No entanto, preferem aplicar dezenas de milhões de reais em “stands†e vitrines que duram 30 dias, ou seja, o mês da temporada de inverno. Essas grandes empresas nacionais e multinacionais, além de burras, não têm espÃrito público e nenhum interesse na divulgação da história jordanense. Usam Campos do Jordão como absorventes femininos ou preservativos masculinos que depois de usá-los os jogam na lata de lixo.
E os proprietários jordanenses de terrenos que faturam alto com a locação dos mesmos às empresas nacionais e multinacionais, por que não ajudam com uma migalha do muito que recebem? Por quê?
Desculpem os leitores esta explosão de revolta e de desabafo. Como jordanense de coração é a única coisa que posso fazer.
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