A VIGARICE VEM DE LONGE, MUITO LONGE
Um vigarista andou por Campos do Jordão em 1930, explorando a dor alheia e tirando proveito da solidariedade do povo brasileiro. A sua história consta de inquérito policial cuja cópia chegou-nos à s mãos graças ao amigo José Roberto de Oliveira Filho, ex-servidor da PolÃcia, e atualmente, do Poder Judiciário. O vigarista chamava-se Itagiba Ribeiro Barra e se dizia jornalista. Espertalhão, boa conversa, inteligente, insinuante e mal intencionado, todos atributos que compõem a figura do estelionatário. Naquele tempo Campos do Jordão era uma famosa estação de cura da tuberculose, conhecida em todo o Brasil, para onde acorriam doentes do pulmão de todos os Estados brasileiros. Buscavam o clima jordanense tentando a cura da tuberculose. Como doença social, desnecessário dizer que Campos do Jordão ficava lotada de pessoas pobres e sem recursos, e a cidade não dispunha de estrutura hospitalar. Muitos, enganosamente, pensavam que só o clima devolveria a saúde – foi o tempo da climatoterapia. Campos do Jordão era uma cidade pobre cheia de doentes pobres. Esse quadro constituiu um prato cheio para o vigarista. O espertalhão inventou um “Sanatório Dom Boscoâ€, que nunca existiu e montou uma diretoria composta por médicos ilustres da cidade, como dr. Antonio Gavião Gonzaga, Lincoln Ferreira Farias, Clóvis Correa e Vicente MarcÃlio, à revelia deles, intitulando-se ele próprio diretor-presidente.
Pelo rádio e pela imprensa começou a arrecadar auxÃlio financeiro em todo o Brasil, alegando que o “sanatório†trataria dos tuberculosos pobres que subiam a Mantiqueira. Na verdade, todo o dinheiro arrecadado ia para os seus bolsos. O povo brasileiro, generoso e solidário, começou a remeter dinheiro ao vigarista, que passou a levar uma vida luxuosa e nababesca.
Imagine o leitor que o espertalhão pediu auxÃlio financeiro até para Mussolini, que governava a Itália, a Hitler que dirigia a Alemanha, a Roosevelt que presidia os Estados Unidos. E não esqueceu de pedir dinheiro até ao Rei da Inglaterra.
Itagiba Ribeiro Barra recebeu vultuosas importâncias em dinheiro e chegou a até a organizar uma loteria, com o rótulo do “sanatório para tuberculososâ€, vendendo bilhetes em todo o Brasil, onde anunciava que todos os sorteados receberiam um palacete, ou automóvel ou uma fazenda de 266 alqueires, ou um bangalô, prêmios que somados importariam em 340 mil contos de réis, uma verdadeira fortuna. Quanta gente de boa-fé caiu no conto do vigário!
Quando a máscara do farsante caiu e a verdade veio à tona (ela tarda, mas não falha), o delegado de PolÃcia Enzo Júlio TrÃpoli instaurou inquérito policial para apurar os atos desonestos do estelionatário, descobrindo-se, então, que ele já havia sido preso em Ribeirão Preto em 1930, demitido do cargo de escriturário da PolÃcia de São Paulo e detido em Belo Horizonte em 1934. Em 1937, foi decretada a sua prisão preventiva por sentença do dr. Francisco Cardoso de Castro, juiz de Direito de São Bento do SapucaÃ, que, na época, era da Comarca de Campos do Jordão. Fugiu da cadeira pública local, mas foi recapturado e condenado a 4 anos de prisão, que o Tribunal de Justiça de São Paulo reduziu para 2 anos e 6 meses. A imprensa de São Paulo deu ampla publicidade à tentativa frustrada do golpe, com todos os detalhes da bem urdida operação maliciosa do vigarista. Em passado mais recente, monsenhor José Vita e frei Orestes Girardi também tiveram de enfrentar estelionatários que se apresentavam, em nome das instituições, solicitando donativos e dinheiro. A vigarice em nossa terra vem de longe, muito longe.
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