LOBISOMEM DO RANCHO ALEGRE
Minha amiga Alzira Rosa de Godoy, de famÃlia pioneira jordanense, contou-nos mais uma lenda de Campos do Jordão.
No bairro Rancho Alegre havia uma parteira muito conhecida na região, por sua reconhecida competência.
Em qualquer hora do dia ou da noite, lá estava ela para acudir as humildes mulheres do bairro e região, que entravam em trabalho de parto. Não tinha preguiça, a qualquer hora que fosse chamada, estava presente e até se orgulhava em dizer que noventa por cento das crianças ali nascidas, vieram o Mundo pelas suas mãos. Por isso ficou famosa.
Após os nascimentos, aconselhava os pais para que os seus filhos fossem batizados imediatamente, pois na região havia um lobisomem que rodeava as crianças pagãs para comer-lhes o umbigo. Se não houvesse o batismo de imediato, a criança se tornaria, mais cedo mais tarde, um novo lobisomem se menino, ou bruxa, se menina.
Por isso no Rancho Alegre, toda vez que nascia uma criança, enquanto ela não tivesse sido batizada, os pais logo colocavam cruzes de madeira nas janelas e portas, a fim de impedir a entrada do lobisomem. Mas, a famosa parteira também tinha os seus filhos. Certa vez, com um filho recém-nascido, mas ainda não batizado, a parteira foi atender uma parturiente, que estava às vésperas de dar à luz. Com a maior boa-vontade, pegou sua criança nos braços e foi atender o parto. Antes de chegar à casa da parturiente, foi assaltada por um cachorro enorme, que com os dentes à mostra, a atacou ferozmente.
Imediatamente, subiu em uma porteira muito alta e começou a gritar por socorro, com todas as forças.
O cão enorme e furioso que a atacava, procurava roubar-lhe a criança que ela agarrava fortemente aos braços.
Percebeu logo que era o temido lobisomem e começou a gritar desesperadamente. Os vizinhos mais próximos ouviram os seus berros lancinantes no meio da noite, e um deles, armado de espingarda, começou a atirar no cachorrão que fugiu em desabalada carreira, sumindo na escuridão.
A parteira, exausta e muito assustada, com o ocorrido, e ainda em quarentena, não se sentindo em condições de atender a parturiente, retornou à sua casa, levada de carroça pelo vizinho que disparara a espingarda contra o cachorrão.
Quando ela entrou em casa, levou um tremendo susto que a deixou paralisada. Encontrou o marido ofegante, muito sujo de terra e percebeu que entre seus dentes havia fios do cobertor com que ela havia enrolado a sua criança aos braços.
Foi então que parteira horrorizada e estupefata, descobriu que era o seu marido, o maldito lobisomem que aterrorizava a região.
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