NEGRO! BÊBADO! LADRÃO!
A primeira missa na Capela São Benedito de Vila Capivari, que era pequena, mas belÃssima, foi celebrada em 21 de fevereiro de 1930. Foi demolida e em seu lugar construÃda a atual, em cuja inauguração estiveram presentes o embaixador José Carlos Macedo Soares, o senador Roberto Simonsen e o Cardeal Arcebispo de São Paulo, Dom Carlos Carmelo de Vasconcelos Mota. O doador do terreno, Macedo Soares, foi homenageado pela Irmandade de São Benedito, presidida por Simão Cirineu Saraiva. São Benedito, o Negro ou o Africano, é Santo da Igreja Católica Apostólica Romana. Algumas versões dizem que ele nasceu na Sicilia, Sul da Itália, em 1524, descendente de escravos. Criado em famÃlia muito pobre, consagrou-se ao serviço de Deus e, aos 21 anos era monge dos irmãos eremitas de São Francisco de Assis. Fez votos de pobreza, obediência e castidade. Andava descalço pelas ruas e dormia no chão sem coberturas. Era muito procurado pelo povo que lhe pedia conselhos e oração. Depois de 17 anos entre os eremitas, foi designado cozinheiro no Convento dos Padres Capuchinhos. Sua piedade, sabedoria e santidade levaram os irmãos a elegê-lo Superior do Mosteiro, apesar de analfabeto e leigo. Sempre preocupado com os pobres que não tinham o que comer, escondia alimentos dentro de suas roupas e os levava para os famintos da rua.
Certo dia, o novo Superior do Convento surpreendeu-o e perguntou: “O que escondes aà em baixo do teu manto, irmão Benedito?†E o santo respondeu humildemente: “Rosas, meu senhor!†E abrindo o manto que o cobria, apareceram rosas de grande beleza e não os alimentos de que o Superior suspeitava. São Benedito faleceu aos 65 anos , em 4 de abril de 1589, em Palermo, na Itália. Impressionou-nos muito o comovente episódio que relatamos em nosso livro “A Revolução da Palavraâ€, publicado em 1977, que extraÃmos de Afrânio Peixoto. Conto agora aos leitores essa história estonteante.
Frei Bastos fora convidado a fazer sermão na Igreja de São Benedito na Bahia, durante as festividades comemorativas do nascimento do Santo, contudo, desintendera-se gravemente com os organizadores do evento e ficara muito nervoso. Com a igreja abarrotada de gente, Frei Bastos subiu ao púlpito e furioso olhou longamente a imagem de São Benedito. Depois de um prolongado silêncio, o sacerdote proclama em voz alta: “Benedito! ... Negro ... Bêbado ... Ladrão!â€
Houve um espanto geral e um calafrio percorreu a todos os presentes que imaginavam estar ocorrendo algo anormal com o pregador. “Não é possÃvel! O que houve com o pregador?†– pensaram todos. Mas, Frei Bastos, sereno e com a voz mais forte ainda, proclamou: “Negro sim na cor da pele, mas branco na alma com que tingias tuas ações. Bêbado, na graça de Deus, com que te olhavas, abismado, na contemplação do Senhor! Ladrão do Santo Menino, que roubaste à Virgem e não quis mais deixar-te os braços!â€
Houve um frisson geral. Os fiéis ficaram abestalhados com a criatividade, a improvisação, a coragem, a eloqüência do pregador, que deu um susto em todos os fiéis, mas , depois os comoveu a todos. Nunca mais me esqueci dessa imagem de espetacular improvisação e criatividade na oratória sacra.
Meu São Benedito, não deixai nunca que a comida falte na mesa do pobre!
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