MISTÉRIOS DA VOLTA FRIA
Às vezes, a rua de uma cidade se notabiliza por algum acontecimento ou uma tragédia; noutras, pela lenda e pela crendice popular. Referimo-nos aos mistérios que envolvem uma rua de nossa cidade, antigamente, denominada de Rua Paraíso e, atualmente, Rua Felício Raimundo, um pioneiro de Campos do Jordão. Era, antigamente, um caminho triste, de terra, muito escuro, gelado, de pouca insolação, nenhuma iluminação, porque margeada por densa vegetação. Mas era uma rua muito importante porque era a única ligação entre Abernéssia e Capivari, porquanto àquele tempo não havia sido aberta a avenida Januário Miraglia.
Atualmente, embora pavimentada, parece abandonada e esquecida, margeada por poucas casas e estabelecimentos.
Dá a impressão que a culpa por essa penalização cabe à Volta Fria que fica na metade da antiga Rua Paraíso. Como a própria denominação está a dizer, trata-se de uma curva existente naquela rua, que continua fria e com pouca iluminação, onde há um transito de veículos e pessoas muito pequeno. Diziam os antigos que a Volta Fria era um lugar mal-assombrado pelas coisas estranhas que ali aconteceram. Umas histórias podem ser lendárias; outras, porém, verdadeiras. Até hoje, quando a gente passa por ali, sente um frio na barriga, pelo menos, os mais velhos. Muito cabra macho sentia medo de passar por ali à noite, embora fosse, à época, a única ligação entre Abernéssia e Vila Capivari.
Quem andava a pé, apertava o passo, a respiração ofegante, olhares para um lado e para o outro, e revólver na cintura. E mão no revólver. É que ali fora encontrado o corpo de um homem assassinado. Noite alta, ouviam-se ruídos estranhos parecidos com vozes humanas, sons partiam da mata, como se fossem movimento agitado de animais. À meia-noite, dificilmente, o cavaleiro passava pela Volta Fria. Por quê? Simplesmente porque o animal empacava. E empacava mesmo, era preciso esperar os ponteiros ultrapassar aquela misteriosa hora da noite, para o cavaleiro seguir viagem. Ali houve muitos acidentes, pois, acumulava-se uma grande quantidade de gelo na Volta Fria, fazendo com que os veículos deslizassem e os pneus desgovernados provocavam abalroamentos de um automóvel com o que vinha em sentido contrário. Lázaro era o funcionário municipal que dirigia o carro fúnebre, transportando os corpos para o cemitério que, naquele tempo, situava-se em Vila Nadir. Certa feita, Lázaro, cumprindo o seu doloroso dever, chegou ao
cemitério e levou um susto enorme. Ficou desnorteado. “O caixão, meu Deus! – onde está o caixão?” Ficou lívido e começou a suar frio. O caixão do defunto não estava dentro do carro fúnebre. Entrou, imediatamente, no veículo e retornou, fazendo o mesmo percurso, em desabalada carreira. Sabe o leitor onde ele foi encontrar o caixão caído à beira da estrada? Na Volta Fria. Assustadíssimo e com ajuda de transeuntes, recolocou o caixão no veículo e retornou ao cemitério, desta vez, devagarinho, sempre olhando para trás para ter certeza de que transportava o ataúde para a casa dos mortos. Pode ser que o morto transportado não queria ser sepultado e, de alguma forma, manifestou o seu protesto, mesmo porque “morto que se preza não fica no necrotério”.
É por isso, caro leitor, que, quando vamos ao cemitério, não encontramos os mortos.
É que nós os levamos lá e os trazemos de volta conosco.
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