É GENTE HUMILDE. QUE VONTADE DE CHORAR!
Toninho Guedes foi servidor da Prefeitura ao longo de 60 anos. Um recordista. Natural de Santana do Sapucaà (MG), Toninho chegou à nossa cidade ao 7 anos de idade, com a mudança da famÃlia. Hoje tem 89 anos, com filhos, netos e bisnetos. Impressionou-o à primeira vista as frondosas araucárias e a garça ou cegonha que existia no telhado da antiga Casa Cury. Foi morar em Vila Capivari, onde não havia mais de 50 casas. “Da Igreja S. Benedito até a Fonte Simão era mato cerrado, onde a gente ia buscar aquela água pura para ganhar uns trocados. No caminho só havia duas casas, uma delas do dr. PlÃnio Barbosa Lima, médico muito bom que todas as noites, a cavalo, visitava ranchos para saber se havia alguém doente. A outra casa era do Miguel Peraâ€. Quando completou 10 anos, duas coisas aconteceram na vida de Toninho Guedes: A Revolução Constitucionalista de 1932 e o aprendizado do oficio de magarefe no Matadouro Municipal. Durante a Revolução, a população assustou-se com a possibilidade de invasão dos mineiros e com os tiroteios havidos em São Bento do SapucaÃ. Nessa época, a casa de Toninho abrigou 15 famÃlias jordanenses, amendrontadas. Eles moravam em Vila Nadir. “Lá pelos lados do Palácio Boa Vista e do Baú, meu pai ajudou a cavar muitas trincheirasâ€. Depois desse perÃodo, Toninho só cursou 3 anos na escola e começou a ajudar o pai no Matadouro Municipal, onde aprendeu o ofÃcio. Aos 17 anos como já sabia fazer tudo, foi chamado para um teste. Foi brilhante, pois abateu 5 bois, limpou-os, cortou-os e entregou a carne aos açougues. Nos anos 50 foi admitido a trabalhar no Matadouro, hoje à margem da SP-50â€. “Fui o terceiro funcionário da Prefeitura, diz, orgulhoso. Muito tÃmido, nunca foi buscar o salário durante três mesesâ€. Perguntaram-lhe se sabia quanto era seu salário e ele não sabia. “Na verdade, o que me importava era ser funcionário do governo, com um emprego decenteâ€. Levou um susto quando recebeu de uma só vez 420 mil réis. Um dinheirão à época. Com 100 mil réis seu pai fez uma compra grande que rendeu 3 meses. Ficou feliz por ajudar a famÃlia. Em 1944, por ocasião da 2ª Guerra Mundial foi convocado a servir o Exército em Juiz de Fora, e o seu salário foi pago para sua mãe, porque o pai estava muito doente. Ele faleceu longe do filho. “Quando dei baixa, fiquei sabendo que tinha uma poupança, pois a Prefeitura havia feito somente os pagamentos da metade de seu salário para sua mãe. “Com isso, recebi 1 conto e quatro centos mil réis, que aproveitei para comprar utensÃlios para meu futuro casamento, com Benedita Moreira, uma jordanense valente e corajosaâ€. Ajudou-o a comprar lotes em São Paulo e São José dos Campos, que foram vendidos para a compra de um terreno em Campos do Jordão e a construção de sua casa, onde criou 7 filhos. “Todos tiveram estudo e seguiram seu rumoâ€. “Mesmo depois de aposentado em 1974, Toninho Guedes continuou trabalhando. No Matadouro faziam o serviço em 3 dias e nos outros 2, vinha para Abernéssia e Jaguaribe limpar bueiros e capinar ruas para deixar a cidade bonitaâ€. O que não querÃamos era ficar de braços cruzados, sem fazer nadaâ€. Do Matadouro, em 1982, foi transferido para o Departamento de Parques e Jardins e em 1989 foi trabalhar no Mercado Municipal. Toninho costuma dizer: “Sou da velha guarda. Aprendi a gastar só que tenho. E o que tenho é tão bem contadinho que a gente compra tudo em dinheiro mesmo. Conheci muitos prefeitos mas nunca pedi nada para eles. Sempre trabalhei muito, sem reclamar de nada. Tenho um amor imenso por Campos do Jordãoâ€. Toninho foi ministro da Eucaristia na Igreja Matriz e na Capela da Vila Santo Antonio. Ele conta: “É preciso voltar aos tempos antigos, em que o povo se conhecia e se respeitava, se cuidava e cuidava da cidade. Essa mudança precisa começar em casa. Não se pode esperar que a escola faça tudo, que ensine as crianças o respeito pela vida, pela natureza, pelos mais velhos, pela cidade. O amor se aprende em casa e é a famÃlia que tem que modificar a criançaâ€. Conhecendo a vida de Toninho, lembrei-me da música de Chico Buarque, composta por ele, Garoto e Vinicius de Moraes: “É gente humilde, que vontade de chorar!â€
|