Ó IRACEMA, EU NUNCA MAIS TE VI!
Em agosto próximo passado, a cidade perdeu a poetisa de Campos do Jordão, depois de longos padecimentos. Seu nome lembra a doçura do mel.
Chamava-se Iracema Abrantes, de famÃlia pioneira jordanense. Deu-me a honra de prefaciar seu lindÃssimo livro “Cantar Campos do Jordão e Outros Cantaresâ€, onde celebrou a cidade, o Museu FelÃcia Leirner, o Festival de Inverno, o Monumento Centenário, as estações do ano no Alto da Serra, as araucárias, os plátanos, o liquidambares, os redodendros, as hortênsias, os pinheirais e cedrinhos, a Mantiqueira, o Itapeva, as nascentes mais altas do Rio da Prata, a Pedra do Baú, o Palácio Boa Vista, as vistas jordanenses, a Igreja N. S. da Saúde, o Horto Florestal.
Iracema cantou a natureza serrana e a alma do povo de Campos do Jordão, e, por isso é a sua grande poetisa. Ajudou-nos nas pesquisas históricas sobre a Estância lembrando passagens de Guilherme de Almeida, Carlos Heitor Cony e de Alberto da Costa e Silva por estas serranias. Foi doce, terna, carinhosa, sensÃvel, amorosa, comovente e suave, qualidades que inseriu em seus versos cheios de candura e dotados de alta voltagem lÃrica. Guimarães Rosa escreveu que as pessoas não morrem. Ficam encantadas. Errado. Encantados ficam os leitores de Iracema Abrantes. O poeta popular Adoniran Barbosa, em uma de suas músicas, cantou: “Iracema, eu nunca mais te viâ€. Errado. Deveria ter composto: “Iracema, eu jamais te esquecerei!†A poetisa de Campos do Jordão derramou doçura e mel sobre tudo que versejou sobre as coisas e a gente de nossa terra, deixando uma lembrança inesquecÃvel, imorredoura, perene. Em “Cantar Campos do Jordão e Outros Cantares“, ela celebrou a terra querida: “Eu canto a cidade tão linda / Canto a paisagem infinda / Até o fim do horizonte / Canto a fonte. / Estes verdes pinheirais / Resistindo vendavais / Canto os plátanos da avenida / Canto a vida. / Canto estas noites tão frias / A luminosidade dos dias / Pôr-do-sol de mil cores / Canto as flores. Canto a pureza do ar / Canto o triste cantar / Do sabiá tão dolente / Canto ternamente. / Canto o azul deste céu / Canto o ruço que é um véu / Dos meus Campos do Jordão/ Canto com o coraçãoâ€.
Perdemo-la. Mas Deus a recebeu festivamente na poesia da eternidade. Ó Iracema, jamais te esquecerei.
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