TEM CADA UMA QUE PARECE DUAS
O fato aconteceu por volta de 1.954. Não assisti, mas, me contaram e tal como me contaram, conto ao leitor. Naquela década, o Fórum de Campos do Jordão funcionava na Rua Brigadeiro Jordão no andar superior, onde atualmente se encontra a sede da Associação Comercial. Ali também eram realizadas as reuniões do Tribunal do Júri. No andar térreo, existia o Bar Tupi, do senhor Adriano, muito freqüentado. Um belo dia estava sendo julgado um réu de crime de morte. O juiz era o Dr. Eduardo de Campos Maia Neto e o promotor o Dr. Jackson Gouveia de Barros. O advogado era mineiro e confesso que não me lembro de seu nome. Lá pelas 10 horas da manhã, chegou o defensor que logo se abrigou no bar do Adriano e começou a beber cerveja. Uma garrafa, duas, três , quatro, não sei quantas. Acabou ficando alcoolizado enquanto aguardava o inÃcio da sessão do julgamento, que se instalou à s 13 horas, quando o juiz-presidente do Tribunal do Júri instalou a sessão e sorteou o corpo de jurados. Nessa altura, o defensor mineiro estava alcoolizado, “prá lá de Bagdáâ€, mas ocupou a sua cadeira destinada à defesa do réu. Dada a palavra ao acusador público, ele pediu a pena máxima para o réu, pois o crime foi bárbaro (naquela época não havia crime hediondo). O juiz-presidente do Tribunal do Júri deu a palavra ao advogado que viera de Minas Gerais, que se levantou e começou a falar sobre as belezas de Campos do Jordão, depois de saudar como é de praxe, o juiz, o promotor e o corpo de jurados. A sua saudação durou cerca de 30 minutos. O juiz-presidente advertiu-o para que ele começasse a defesa técnica do réu, pois até aquele momento o acusado estava indefeso. O advogado de defesa agradeceu a lembrança do juiz e começou a dissertar sobre a grande importância da estação de cura de tuberculose, que levou aproximadamente mais 30 minutos. O juiz-presidente tornou a adverti-lo de que o réu estava até aquela hora indefeso, o que contrariava as leis do processo penal. Determinou o magistrado que o advogado iniciasse imediatamente a defesa técnica do acusado, sob pena de ser obrigado a suspender a sessão de julgamento. Depois de agradecer a advertência do juiz, o advogado começou a falar sobre o valor da estância turÃstica, famosa em todo Brasil e até no exterior. Levou mais uns 30 minutos, alardeando as qualidades do clima, as belezas da natureza e a imponência dos pinheirais jordanenses. AÃ, o magistrado não agüentou. Interrompeu a fala do defensor, dissolveu o corpo de jurados, suspendeu a sessão do Tribunal do Júri, sob a alegação de que o réu estava indefeso e que o advogado não tinha mais condições de sobriedade para iniciar a defesa. O advogado de defesa, ante a estupefação de todos, balbuciou algumas palavras ininteligÃveis, desceu as escadas do prédio e retornou ao Bar Tupi para continuar a sua cervejada que iniciara antes da sessão de julgamento. O homem do povo que assistiu aquela cena inusitada e ridÃcula também não agüentou e disse: “Puxa! Tem cada uma que parece duas!â€
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