RUAS DE CHOCOLATE
Transferiu sua clÃnica de dermatologia para Campos do Jordão um conceituado médico e homem público, o doutor Nelson Guimarães Proença. Todos ganharam com essa mudança de endereço, porque para socorrer-se de seus excelentes serviços médicos, o jordanense necessitava transportar-se para São Paulo. Agora não, ele esta atendendo permanentemente os seus pacientes na Galeria Prudência, em Vila Abernéssia. O doutor Nelson Proença foi Livre Docente da Escola Paulista de Medicina e ex-Professor Titular de Dermatologia da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, além de manter uma das mais conceituadas clÃnicas dermatológicas da Capital paulista. Além disso, na vida pública foi Vereador em São Paulo e Secretário de Assistência Social do Estado, onde revelou uma conduta pessoal e pública inatacável. Conhecendo-o como profissional da Medicina e acompanhando-o na vida pública, solicitei a sua dileta esposa doutora Ivonne Maria Proença um depoimento, sabendo-a antiga admiradora e freqüentadora de Campos do Jordão. A ilustre senhora atendeu-me imediatamente, enviando-me um texto, onde recordou o passado. Transcrevo-o como foi escrito: “O episódio que irei contar aconteceu lá pelos idos de 1942, ou talvez 1943. Era pleno perÃodo de férias de verão. Nossa famÃlia era pequena, constituÃda apenas por mim – que na ocasião tinha 10 ou 11 anos – por minha irmã, cinco anos mais nova e por nossos pais. Estávamos pela primeira vez a caminho de Campos do Jordão, dentro do bondinho que subia a Serra da Mantiqueira, a partir de Pindamonhangaba. Chovia copiosamente. Catadupas de água barrenta desciam a serra ao lado da linha férrea do bondinho. Tudo estava envolvido por densa névoa. Meu pai teria tido suficiente razão para ficar aborrecido, imaginando que havia grande possibilidade de pegar uma semana de férias com mau tempo pela frente.
Isto se ele fosse um homem normal, comum. Mas, meu pai não era um homem comum. Em tudo ele via um lado bom, em tudo ele encontrava um lado poético. Tinha o espÃrito dos poetas. Em vez de se lamentar, virou-se para nós e disse: “Estou levando vocês para o lugar mais maravilhoso do mundo. Como vocês verão, lá as ruas são todas de chocolate e vocês podem pegar as nuvens com as mãos. Para sempre foi esta imagem, mágica, que ficou gravada em minha mente, desta nossa Campos do Jordãoâ€.
Esta belÃssima recordação de um pai amoroso e poeta que pretendia acalmar as suas filhas pequenas diante da tonitruante tempestade que desabava sobre a Serra da Mantiqueira, subindo pela automotriz da Estrada de Ferro Campos do Jordão, me fez lembrar de uma frase que ouvi em algum dia do passado: “Todos nós, indistintamente, temos um pouco de médico, de poeta e de loucoâ€
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