GOLPE DE MESTRE
Terminara a Revolução Constitucionalista de 1932 e São Paulo perdera para as forças federais da ditadura de Getúlio Vargas. Os soldados federais chegaram a Campos do Jordão pela Estrada dos Barrados. Era um tenente e dezesseis praças. O funcionário municipal Eduardo Moreira da Cruz, por precaução, guardara no Sanatório São Paulo e no Preventório Santa Clara grande quantidade de alimentos. O tenente, de arma em punho, logo lhe perguntou onde era o Posto Policial, ao que Eduardo pediu que guardasse a arma. Indagado a falar sobre as condições de Campos do Jordão, o funcionário municipal informou que quem não era tuberculoso, era tÃsico. O tenente perguntou a diferença. Eduardo explicou que tuberculoso exalava o bacilo de Koch e o tÃsico não. E falou ao militar: “Quando o senhor tomar café por aqui, não use copo nem xÃcara. É perigoso, pode contagiar-se da doençaâ€. O militar federal perguntou dos alimentos na cidade, ao que Eduardo respondeu: “Não temos. O pouco de que dispomos vamos distribuir aos pobresâ€. Desvencilhando-se do tenente, Eduardo convocou todos os fiscais da Prefeitura e mandou que trouxessem para o pátio da estação de Abernéssia todos os moradores da favela, que ficavam nos morros de Vila Ferraz. Pouco mais de uma hora, chegou uma legião de pessoas paupérrimas, sujas, mal-vestidas. Eduardo falhou-lhes: “Olha minha gente! Quando o tenente federal chegar aqui, vocês comecem a tossir e a gemer. Se não for assim o tenente vai levar todos os alimentos embora. Não vai sobrar nada prá vocês!†Quando o tenente chegou ao pátio da estação ferroviária e viu aquele quadro dantesco, com pessoas tossindo, gemendo e escarrando, empalideceu, colocou o lenço na boca e partiu imediatamente com a sua comitiva. Eduardo Moreira da Cruz, dando gargalhadas, contava: “Também pudera! Todo mundo naquela cidade era tuberculoso!" Golpe de mestre do saudoso Eduardo Moreira da Cruz.
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