Dr. Pedro Paulo Filho

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Uma carta de amor


Na antevéspera de mais um aniversário de tua existência, resolvi escrever-te, embalado de amor e ungido de emoção.

Não me contenho ao recordar a tua vida, assinalada de glórias e lutas, solidariedade e beleza.

Lembro-me, quando pequenina, davas os primeiros passos, titubeante e frágil, à sombra de tua afetuosa mãe, São Bento do Sapucaí.

Nem Distrito eras ainda de tão pequenina...

Logo que os raios de sol ardentes destas montanhas, ricos de vitamina, te permitiram desabrochar como flor envolta de orvalho, Distrito te tornaste em 1915.

Eras uma criança linda, cheia de encantos e graça; impossível olhar-te, sem deixar pelos caminhos farrapos do coração.

Depois, cresceste mais um pouco, e já robusta e bem falante, espargindo luz, recebeste um Diploma de Honra, o de Prefeitura Sanitária, em 1926, fazendo-nos derramar, face abaixo lágrimas salgadas de orgulho e admiração.

Eras, então, menina-moça, e nunca tantos te amaram tanto!

A luz refulgente que brilhava em teus olhos, claros e misteriosos, as cores do arco-íris que emolduravam a tua imagem e o teu perfil magnífico e olímpico - Ah! que saudades tenho daqueles tempos de outrora!

Amadureceste para a vida, adquirindo maioridade política em 1934, e Município te tornaste, passando a ser autônoma e independente, livre dos vínculos maternos.

Eras moça de irradiante beleza, e aí começou o longo ciclo do teu sofrimento, que as páginas da História testemunham e a memória dos antigos gravaram para a posteridade.

Enquanto todos, ao teu derredor, procuravam construir fábricas e amealhar riquezas, e outros, ainda, labutavam nas lavouras de vastas plantações de café, tu, minha querida Cidade, manchavas as tuas mãos delicadas com o sangue quente dos teus irmãos aflitos, que entoavam a sinfonia cavernosa dos pulmões doentes.

E piedosa e bendita, heróica e santa, não regateaste o abrigo enternecedor e a palma acariciante, adotando a todos, como se fossem filhos do teu próprio ventre.

Nunca distinguistes entre os gerados e os que chegaram antes ou depois.

Ao contrário, a todos recebeste e quase todos os que te buscavam, traziam o estigma da palidez na fronte, a combalida saúde, a moléstia instalada, mas sobretudo, carregavam no coração a esperança da vida ao mirar-te, formosa e fraterna.

Muitos se perderam nos teus braços, afogados na agonia das hemoptises, que de sangue mancharam as tuas vestes, mas que de bênçãos te enriqueceram de luz; milhares, contudo, com o teu amor fecundo e tua vocação samaritana, salvastes para a vida e para a Pátria.

Dezenas de milhares aportaram enfermos e desenganados, retornando aos seus lares, sadios e redivivos; milhares vieram para morrer em teu colo, mas ressuscitaram pela misericórdia do teu coração, prenhe de amor e de afeto.

Ah! minha querida Cidade, como foste corajosa e bendita! Foste Cidade-Heroína.

Que País neste mundo duro e cruel, não gostaria de ter-te como filha, irmã e noiva até?

Deste tudo o que tinhas para salvar os teus irmãos enfermos - viessem de onde viessem - e mais não deste porque não tinhas.

Hoje, tuas irmãs, que receberam a mesma maioridade política, estão fortes, pujantes e prósperas, e tu, que foste curar o irmão aflito, ofertando-lhe a vida, em nome da solidariedade humana, continua incompreendida, relegada ao esquecimento, triste e alquebrada pelos anos, agredida por todos quantos tinham o dever de velar-te, e que olvidaram o teu passado de glórias.

Como é falível e precária a memória dos homens!
No dia do teu aniversário, a 29 de abril, peço aos teus filhos queridos, natos ou adotivos, que honrem e cultuem o teu passado de heroísmo, cuidem de tua saúde combalida, reergam a tua fronte prostrada, reanimem nas tuas veias o sangue escasso, do qual tantos receberam a vida, dêem-te um pouco de pão para mitigar o sofrimento do teu corpo e de água cristalina para limpares a fronte, turva e maculada.

Confio, minha querida Cidade, que no dia do teu aniversário, ao menos os teus filhos, que nasceram ao calor do teu regaço e se alimentaram com o leite do teu seio dadivoso, não te desamparem à noite incerta do futuro, abandonando-te à mão dos que não sabem amar-te ou não aprenderam a retribuir-te a luz que ilumina os olhos e o sangue que reanima a vida.

Confio nos teus filhos, minha querida Cidade, porque ninguém pode querer-te mais e tanto e amar-te tão estremecidamente, como teus filhos amados, natos ou adotivos.

Deus te guarde a 29 de abril e te livre dos que estão de passagem; dos que te abraçam à sombra da noite e te apunhalam à luz do sol; dos que fingem querer-te para explorar o teu encanto e ingenuidade; dos que, por vaidade ou malícia, agasalham-se sob a altivez do teu porte para extrair proveito da tua hospitalidade.

Que os teus filhos, no dia do teu aniversário, saibam apartar os que te veneram como mãe, dos que te desejam como amante.

Um beijo de esperança do teu

Pedro Paulo, filho.

Dr. Pedro Paulo Filho